Este é um dia calorento de Verão, viajava no comboio já a algumas horas. Estávamos agora parados. Uma rapariga aparentemente cega senta-se junto de mim. O comboio volta a entrar em movimento.
- Para onde vais? – perguntou ela.
- Algarve…
- Sozinha?
- Sim, os meus pais, por incrível que pareça, deixaram-me vir. E tu?
- Também. Adoro os ares de lá. Fazem-me muito bem.
Por momentos ficamos sem assunto e a conversa suspendida, mas no entanto ela não desiste a faz mais uma questão: Então, qual é o teu nome?
- Sónia, e o teu?
- Filipa - respondeu, ela muito amável.
A conversa parou mais uma vez. Tinha já passado bastante tempo desde que a Filipa se tinha sentado ao meu lado. Foi então que se sentiu à vontade para contar uma das passagens, talvez, marcantes da sua vida:
- Há cerca de dois anos, por esta altura, eu esta a fazer o mesmo trajecto que estou agora. Estava à espera de ganhar coragem novamente para o fazer. Ia do lado da janela a apreciar a paisagem. Era bela. Campos verdes, com relva húmida…
Enquanto ela contava aquela história que parecia ser interessante eu olhava para a janela. Achava curioso como é que ela poderia estar a apreciar a paisagem se era cega. A verdade é que à medida que ela contava as coisas lá fora, tudo coincidia.
- Os campos eram todos floridos e havia uma árvore com grande porte. Tudo era magnífico, mas de repente olhei com mais atenção e vi uma espécie de borboletas a voar, parecia mágico.
Eu olhei com mais atenção, e também as vi. Olhei para a Filipa e reparei que a carruagem estava vazia. A Filipa parou de contar a história e estava agora com a vista normal como se não fosse cega. Esfreguei os olhos e voltei a olhar. A Filipa limitou-se a dizer são feiticeira, no meu mundo sou normal, mas no vosso sou cega.
De repente acordei. Tudo não passara de um sonho e eu estava ainda sentada no banco da carruagem do comboio que parava mesmo naquele instante. Tinha chegado ao meu destino…